Segunda-feira chegou com uma manhã clara e um sol que prometia brilhar intensamente. Giovanna havia ficado acordada até tarde lendo e relendo as anotações, memorizando tudo aquilo e, talvez, esperando alguma outra visita, mas Poliphilo não veio mais. O sono a levou pela mão e ela apenas cedeu. Estava exausta depois de todos aqueles incidentes fantásticos do fim de semana.
Não contaria nada para Nina, não ainda. Queria entender tudo que estava acontecendo e manteve esse propósito firmemente. Arrumou sua bolsa e saiu para o trabalho. Havia livros para restaurar na biblioteca onde trabalhava e eles não se arrumariam sozinhos.
“Ao contrário de nós, que podemos ficar visíveis ou invisíveis para as pessoas de acordo com nossas necessidades, eles não podem ser vistos pelos biblios e nem pelos humanos, até onde sabemos.”
Esse fragmento de informação dito por Poliphilo girava dentro da cabeça de Gio enquanto ela balançava dentro do pequeno ônibus circular a caminho do serviço.
Os necromons eram invisíveis para os biblios e os humanos, mas seus livros eram muito reais. Pelo que ela entendera, os Grimoires poderiam fazer algumas coisas e também inspirar os humanos a continuar a criar, gerando uma cadeia criativa, mas o que os Sumidouros faziam? Por que causavam lapsos de memória? Se ela fosse uma Gnóstis mesmo, isso também ocorreria com ela ou o efeito poderia ser ouro, assim como era quando lesse um Grimoire?
Poliphilo parecia não querer arriscar e a impediu de tocar o livro. Ele o levou para junto de todos os outros que guardava, mas exatamente onde eram guardados?
Alfarrabista dos Mortos, ele disse.
Era um termo que fazia sentido para aqueles que guardavam os Grimoires dos Biblios que se foram, mas por que esse nome era dado para os livros dos necromons? Por que necromons? Era um termo que remetia aos mortos, como se o fato de não serem visíveis os fizessem ser parte de um mundo que nunca existiu ou se foi. Os livros eram abandonados ou seus donos tinham morrido? Imaginou que um Grimoire deveria ser algo precioso e assim não era largado em qualquer lugar. Dessa forma deveria haver um motivo para os livros serem deixados, caso fossem abandonados, mas qual?
Quantas vezes Poliphilo se fizera essa pergunta através de anos, décadas, séculos? Achar respostas deveria ser como procurar por uma agulha num palheiro e por isso ele depositava tantas esperanças em encontrar um Gnóstis; alguém que pudesse fazer o que ele e nenhum outro biblios podia. Decifrar o que continha o Grimoire de Nabu com a esperança de encontrar mais pistas ou até mesmo os necromons?
Desceu no ponto e seguiu para a biblioteca. Assim que entrou no laboratório de restauro sentiu o perfume de café no ar. Ela já sabia que Margarida havia chegado.
— Bom dia, Mag! — disse enquanto colocava suas coisas atrás de uma bancada e arregaça as mangas. Havia alguns livros para costurar e outros para tirar da prensa. Margarida surgiu por trás de uma estante que dividia o laboratório em dois ambientes. Deslizou com a cadeira e sorriu.
— Bom dia. Quer café? Acabei de fazer. — Apontou para a pequena cafeteira num canto próximo a pia de metal. Margarida era daquelas pessoas atemporais que podiam ter vinte ou trinta anos e pareceriam iguais. Seu sorriso jovial era sempre emoldurado pelos cabelos ricos de cachos negros que ostentavam sempre alguma presilha colorida e original.
— Ah, eu já tomei. Obrigada. Chegou alguma coisa nova? — Olhou para as caixas no canto da sala.
— Material que chegou. Assim que terminar meu café vou abrir para organizar.
— Aleluia. Estamos precisando. — Pegou em seus braços uma leva de livros prontos que se encontravam empilhados num canto. — Vou levar estes para a bibliotecária, no atendimento. — Seguiu para os salões de pesquisa e entregou o material.
Na volta caminhou pelos corredores repletos de livros e parou diante de uma prateleira com algumas coleções antigas para consulta. Um dos seus primeiros trabalhos ali fora reencadernar algumas delas. Conseguira deixar muitos livros do acervo como novos, outros haviam se perdido com o tempo por descuido ou estrago excessivo. Nem sempre era possível salvar um exemplar, outras vezes tinham de ser reconstruídos. Algumas partes trocadas, costuras reforçadas ou páginas remontadas. Havia tantas variantes. Será que Grimoires envelheciam como os livros comuns? E os Sumidouros? O que viu parecia muito gasto, embora emanasse a impressão de ter sido feito há pouco tempo. Tinha aquela aura de um livro feito com uma aparência propositalmente envelhecida, mas seria isso? Ou tudo que os necromons conseguiam fazer tinha essa aparência por um fator natural?
— Seu trabalho é muito caprichoso. — Ouviu a voz familiar e deparou-se com Poliphilo diante dela. De súbito, ela pegou um livro e o abriu aleatoriamente, abaixando o rosto para suas páginas enquanto sussurrava.
— O que está fazendo aqui?
— Por que está sussurrando? — Arqueou as sobrancelhas e inclinou-se um pouco para ouvir.
— Eu não quero que pensem que sou maluca por estar falando para o nada – confessou.
— Ah! — Sorriu achando aquilo divertido. — Eu estou visível. Pode falar normalmente comigo.
Gio baixou o livro e só então percebeu que Poliphilo usava uma roupa diferente. Nada como o que ela já o vira usando; um terno num tom cinza médio com um belo caimento. Começou a achar que biblios não eram muito bons em ser discretos ou se misturar a pessoas com roupas mais triviais. Também teve certeza de que tinha feito papel de idiota naquele momento ao falar para as páginas de um livro.
— Que humilhante. — Recolocou o livro na prateleira.
— Você vai superar — afirmou. — Achei que ficaria mais à vontade para conversar se eu pudesse ficar à vista.
— O que está fazendo aqui?
— Fomos interrompidos ontem e ainda há muito que ser visto.
— Sobre aquilo de eu ser um Gnóstis? Estou trabalhando agora, não posso sair.
— Não vamos sair. Vamos até Imaginarium. — Ele tocou levemente o cotovelo dela e subitamente tudo pareceu parar. Não se ouvia mais os passos discretos das pessoas entre os corredores de livros, o dedilhar no teclado de alguém pesquisando no atendimento ou o farfalhar das folhas dos ipês no jardim externo do prédio que podiam ser vistos através das grandes janelas. — Não se preocupe com o tempo. Quando voltarmos não terá se passado um segundo.
— Você parou o tempo mesmo? — Olhou ao redor surpresa. Tudo parecia congelado.
— Só posso fazer isso um pouco, mas é o suficiente para abrirmos a passagem – explicou.
— Que passag... — Parou quando o viu tocar a estante de metal diante deles e ela se transformou em outra completamente diferente feita em madeira trabalhada com diversos livros antigos expostos em suas prateleiras. Em seguida abriu-a como se fosse uma passagem secreta que levava a um corredor. Não conseguiu deixar de soltar uma exclamação ao ver aquilo. Era como se uma lúdica e antiga fantasia de passagens secretas estivesse se materializando diante de seus olhos. — Isso... aonde vai dar? — O fitou enquanto ele fazia um gesto pra que ela o acompanhasse.
— Para Imaginarium, o mundo dos biblios que fica entre as camadas da sua realidade.
Gio ficou parada por alguns segundos, olhou para trás e sentiu o silêncio do ambiente congelado enquanto a passagem estava aberta. Virou-se o olhou o caminho que mostrava um corredor iluminado com tons amarelados. À medida que foi dando lentos passos para o seu interior as formas que se insinuavam foram ficando nítidas. Logo a abertura revelou a imensa abóbada de uma nave central do que lhe lembrou uma estrutura similar a uma antiga catedral. A intensa luminosidade que preenchia seu interior vinha das dezenas e dezenas de vitrais belamente ornados de padrões florais misturados a diversos outros temas.
Seus passos paulatinamente começaram a ecoar com mais força, como se da mesma forma que o lugar parecesse estar se tornando cada vez mais real para ela o inverso também ocorresse. Logo percebeu que a nave se abria para várias e grandiosas passagens laterais que se conectavam a outras estruturas e podiam ser vistas externamente pelos vitrais. Isso gerava um completo muito maior com diversos ambientes. Olhou ao redor e todo lugar era de pedra sólida polida em tons creme. Havia móveis antigos, escrivaninhas e mesas com pergaminhos sobre elas, banquetas, poltronas e livros que ela divisou, por fim, ao fundo da nave em estruturas imensas cobertas de nichos e compostas de varandas de madeira maciça indicando andares ligados por caprichosas escadarias em caracol. Era belíssimo de se ver. Havia uma sensação de aconchego e bem estar que ela não conseguia explicar. Todos os objetos pareciam muito antigos, mas estavam preservados como se o tempo não existisse e aquele imenso lugar os mantivesse em segurança. Ela notou que as roupas de Poliphilo havia voltado ao que ela vira originalmente assim que ele atravessou a passagem.
— Estamos dentro da Fortaleza de Elzevir, um dos biblios que pertence ao Conselho. Ele é conhecido como O Alfarrabista porque foi o primeiro a coletar livros feitos pelos humanos e os trazer para cá, a Fortaleza do Domo.
— Vocês guardam nossos livros? — Tocou cuidadosamente num imenso exemplar que parecia ser um códice medieval. — Isto é um original?
— Sim. Aqui nós guardamos pelo menos um livro de cada exemplar feito no mundo, e, muitas vezes resgatamos obras únicas que estão em perigo e não são preservadas por vocês. Através da história, Elzevir teve de guardar vários livros e pergaminhos únicos que estavam a ponto de serem destruídos. Outros vocês mesmos conseguiram preservar, felizmente.
“Claro que nem sempre conseguimos localizar livros perdidos compostos de uma única edição ou salvar todos. Às vezes muitos exemplares desaparecem do mundo sem termos colocados nossos olhos sobre eles e, consequentemente, alguns biblios podem desaparecer junto. Imagine que é uma tarefa hercúlea recolher livros e Elzevir foi o precursor, mas depois dele outros seguiram seu exemplo e criaram suas fortalezas, se especializando em preservar outros tipos de registros como pergaminhos e textos até anteriores a criação dos livros como conhecemos.
“Aqui é o repouso de milhares de obras; códices, incunábulos, exemplares de várias épocas, pergaminhos e edições raras, muitas das quais só foi feito um único exemplar. Como não sabemos identificar exatamente como somos compostos, com raríssimas exceções, todos são importantes para nós. Nesta fortaleza o dom de Elzevir de preservar é imenso e aqui apenas entram aqueles que ele permite. Toda estrutura que vê aqui foi criada para armazenar livros do mundo todo, todas as portas conduzem a bibliotecas cujo tamanho pode ser alterado de acordo com as necessidades de Elzevir.”
— Maior por dentro do que por fora – ela murmurou.
— Imaginarium é nosso mundo e aqui tudo que é criado é preservado. Não apenas funciona como um lugar onde podemos nos proteger através da preservação das suas criações, mas também nos permite acessar conhecimento esquecido e o enviar de volta através de nossos Grimoires, como forma de inspiração.
— Seria sensacional se as pessoas pudessem ver isto — comentou.
— Verdade, mas infelizmente muito do que existe aqui seria destruído por muitas pessoas se voltasse à sua realidade. Por isso nós os mantemos aqui e revertemos apenas seu conteúdo do modo que podemos. Há tantas coisas perdidas no seu mundo, tanta informação extraviada. Um mesmo livro pode ter centenas de edições diferentes e cada uma é única e pode ser a diferença entre existir ou desaparecer para um biblios — divagou enquanto olhava por um dos imensos vitrais.
— E onde está esse Elzevir? — Gio procurava-o pelo ambiente.
— Aqui. — Uma figura saiu de uma das passagens laterais da nave que ela vira ao chegar. — Não se intimide com o estilo conservador. Quando fiz a minha fortaleza o Gótico era o máximo. Eu me apeguei ao jeito que é, confesso. Só mudei uns vitrais aqui e ali e fui acrescentando coisas. Meio bricabraque, sabe? — Finalmente parou diante dela e seu sorriso despreocupado desvaneceu enquanto a fitava fixamente. Gio sentiu toda a força do impacto do olhar de Elzevir. Aparentava ser jovem e ostentava longos cabelos lisos, quase brancos, arrematados com uma fita de veludo negra. Sua vestimenta poderia muito bem ter saído diretamente de um alfaiate francês do século XVIII no mais perfeito estilo rococó, contudo a intensidade das cores e a riqueza do acabamento tentava passar uma frivolidade que o olhar desmentia totalmente.
Tampouco conseguia definir a cor deles. Tinha a nítida impressão de que uma miríade de tons surgia o tempo todo, mesclando-se e desaparecendo como se estivesse olhando para um caleidoscópio. E havia a expressão; algo em seu rosto lhe falava de muitas eras atrás. A expressão de quem tinha visto muito do mundo.
— Você está respirando? – ele brincou e Gio desarmou-se, um tanto constrangida. — Tudo bem, eu causo esse efeito nas pessoas. — Sorriu. — Você é Giovanna. Realmente eu não quis levar muito a sério quando Poliphilo falou, mas agora, olhando para você. Tem o Gnósis como um de nós. Isso é... incrível! — exclamou ainda tomado pela surpresa. — Isto é único. Você pode estar certo. Ela pode ser um Gnóstis — comentou voltando-se para o outro.
— Eu a trouxe aqui para que a conhecesse — Poliphilo se aproximou e parou ao lado dela. — Ela realmente poderia passar por um de nós, não?
— Sem dúvida alguma, mas ela já viu seu Grimoire? — Caminhou até uma escrivaninha e pegou um estojo cilíndrico que parecia conter um pergaminho. Bateu com ele na palma de sua mão e Gio notou que o ambiente ficou um pouco mais luminoso. Ele conseguia controlar a atmosfera interna do ambiente com a naturalidade de quem apenas olharia ao redor. Contudo aquilo foi insignificante comparado ao que ela viu a seguir. Elzevir praticamente mudou de aparência e enquanto caminhava de volta até eles já era uma jovem vestindo os mesmos trajes, mas com longos cabelos encaracolados.
— Foi por isso que a trouxe aqui. Acho que ela deveria tentar, não? — Poliphilo falou como se nada tivesse acontecida e o Gio o fitou um tanto alarmada enquanto apontava discretamente para a nova versão de Elzevir que passou por eles e fez um gesto com as mãos para que entrassem por uma das passagens laterais.
— Também quero ver isso. Vamos por aqui!
— Ele... quer dizer, ela... ah, como Elzevir... — Gio tentava entender e Poliphilo sorriu.
— Elzevir pode mudar de aparência o tempo todo. Faz parte da sua natureza. Você vai se acostumar com isso.
— Todos vocês podem fazer isso?
— Todos podemos mudar um pouco, mas cabe a nós escolher como cada um se sente melhor em aparentar. Não deveria ser estranho, afinal humanos também são assim. Nós apenas temos mais facilidade em alterar o que é visível. Faz parte do modo como Elzevir se sente ser assim. Pode-se dizer que é seu estilo. — Sorriu enquanto seguiam por um surpreendente e vasto corredor com imensas portas.
Gio percebeu que antes não era possível ver essas estruturas para onde as portas davam pelos vitrais da nave da Fortaleza, então imaginou que seguiam a regra de maior por dentro que por fora. Quando Elzevir parou diante de uma delas e abriu as portas num gesto teatral, escancarando-as, ela pode ver uma grande biblioteca com paredes forradas de livros em lindos nichos trabalhados em dois amplos níveis, sustentados por sólidas colunas ligadas por arcos esculpidos caprichosamente, que eram acessíveis por belas escadas em caracol talhadas em madeira. Haviam mesas com candelabros e cadeiras de estofamento vermelho que combinavam com os belos tapetes no mesmo tom a cobrirem o piso lustroso. Tudo aquilo era criado por Elzevir para guardar livros e textos reais? Então aqui de certa forma era uma ilusão? A vista dos vitrais naquele recinto também era real, já que por fora o aspecto do prédio era diferente, ou para aqueles ambientes havia uma ilusão de paisagem?
Ela aproximou-se de um candelabro e olhou as chamas de perto.
— Isto é real ou imaginário? — murmurou quase para si.
— Existe diferença? — Elzevir arqueou uma das sobrancelhas e sorriu um pouco. Fez um gesto para ela ir em frente e Gio estendeu um dedo para tocar a chama. Era quente e luminosa, mas não a queimava. — “O mais tangível de todos os mistérios visíveis é o fogo.”[1] — piscou e seguiu até uma mesa na direção de Poliphilo.
Gio ficou fascinada com aquela chama que estava e não estava lá. Continuou a caminhar até se juntar aos dois e foi então que percebeu que Elzevir mudara de aparência de novo para a primeira versão vista por ela. No entanto, as cores da roupa já haviam se alterado e uma casaca de intenso vermelho com escandalosos brocados dourados parecia tentar ofuscar a tapeçaria ou o estofamento dos móveis. Ela achou-o divertido; Elzevir era quase um camaleão dentre seus pares.
Diante deles, repousava sobre uma mesa diretamente abaixo de um dos arcos que sustentavam os níveis superiores das estantes, um lindo Grimoire. Quando Gio o viu, sentiu como se o seu estômago desse uma reviravolta e ela começou a respirar com uma leve dificuldade. Tentou se manter firme.
Aquele livro, não, aquele Grimoire era algo totalmente diferente de tudo que já vira, mas ao mesmo tempo e, assustadoramente, ela já fizera algo levemente parecido uma vez: o pequeno livro que dera de presente ao visitante.
O formato alongado do volume, os detalhes ricamente trabalhados nas bordas, as pequenas incrustações, as cores, tudo era luxuoso e cheio de detalhes. Havia uma aura hipnótica nele que era inegável, como se houvesse uma entidade ali, serena e imóvel. Ela já havia sentido isso antes, com o livro Sumidouro de Nômade; a sensação de que poderia pulsar como algo vivo a qualquer segundo. Quando deu um passo adiante, tentando controlar o corpo pode notar que uma miríade de cores percorreu a capa como quando se olhava para um cristal furta-cor e logo voltava a um tom que, curiosamente lembrava o turquesa das roupas de Poliphilo. Era como se houvesse quase piscado para ela. Era como o belo reflexo dourado dos olhos de Poliphilo.
— Este é seu Grimoire? — Ela o fitou.
— Sim, Giovanna. Este é meu Grimoire. — Poliphilo sorriu e em seu sorriso havia o orgulho detectável do criador.
Gio respirou fundo, mas seu corpo foi tomado por uma leve vertigem, e o que sentiu a seguir foram as mãos gentis de Elzevir e Poliphilo a amparando. Quando deu por si havia uma cadeira e ela estava sentada.
— Está bem? O que está sentido? — Poliphilo tentava adivinhar o que lhe acontecia. Realmente nunca soubera o que um Gnóstis poderia sentir ao ver um Grimoire. — Sente-se mal?
— Não...eu só. Preciso de ág... — Mal terminou a frase e Elzevir lhe estendeu uma taça cujo bojo de cristal era sustentado por uma estrutura de metal dourado esculpida no formato de um casal de cisnes sacolejando asas. Não conseguiu deixar de sorrir com o inusitado do objeto em contraste com o rosto sério do seu anfitrião. — Obrigada.
— Pode beber. É água mesmo se é isto que a preocupa — brincou.
— Eu só... a sensação de ver este Grimoire é parecida com a de ter visto o Sumidouro, mas aqui... — ela parou com receio de contar mais do que queria. Deveria falar agora de seu primeiro livro feito ou do visitante? Achou melhor esperar para entender melhor o que ocorria ali. — Eu só tive a sensação de já conhecer essa estrutura... acho que já imaginei coisas assim. — resumiu dessa forma.
— Você se sente bem? — Por um segundo Elzevir observou o olhar de Poliphilo e sentiu que ali não havia mais apenas a urgência de descobrir a Gnóstis, mas também uma preocupação de que aquilo poderia ser muito pra aquela jovem.
— Eu... poderia ficar sozinha um pouco? — perguntou com extrema necessidade. Ambos se entreolharam e concordaram num gesto afirmativo.
— Tome o tempo que quiser – explicou Elzevir. — Estaremos do lado de fora esperando.
Gio viu Elzevir caminhar num passo leve para fora do recinto e sentiu a mão de Poliphilo tocar a sua por alguns segundos. Era a primeira vez que sentia a textura de sua mão. Era macia e possuía um toque confortável e morno. Tão real quanto qualquer outra pessoa e aquilo lhe pareceu fantástico. Sem perceber segurou-a com firmeza. Ele permaneceu parado esperando o que viria a seguir.
— É tão real. Isto tudo é muito, muito para mim — confessou. — Preciso olhar este lugar um pouco mais, sentir que estou aqui realmente.
— Está certo. Eu a entendo. Levou tanto tempo. Pode levar mais um pouco. Tome seu tempo, olhe o que quiser. — Sorriu por fim e sua mão deslizou delicadamente por entre os dedos dela, como se não quisesse que o vínculo se rompesse muito depressa, deixando implícito que estaria ali quando o chamasse.
Assim que a porta se fechou Gio deu um grande suspiro e arfou algumas vezes, como se pudesse finalmente exprimir sua angústia e surpresa contidas dentro de si. Levantou-se devagar e começou a observar os livros, os objetos, os tocou devagar, sentiu suas texturas e o cheiro do papel antigo. Eram reais aos seus olhos, e pensou na ironia daquilo; um lugar todo criado em Imaginarium para guardar objetos reais. Compreendeu melhor as palavras de Elzevir naquele momento; não havia diferença ali. Tudo era uma coisa só.
Novamente se aproximou do Grimoire de Poliphilo e o observou com cuidado. Estivera sempre fadada àquilo? As formas, alguns detalhes, tudo remetia a seu esboço infantil de primeiro livro. Fizera um Grimoire sem saber quando era criança? O visitante o levara? Onde estariam agora tanto o livro quanto o visitante? Ele também seria um biblios? Quando fizera o seu lembrava-se da frustração de não poder ter muitas cores se movendo como imaginara, então improvisou com muitos detalhes metalizados, tudo com a orientação do avô. Agora entendia que nunca poderia reproduzir aquilo que estava diante de seus olhos; era o Gnósis do livro que emanava como a aura de algo vivo.
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Bona hic Invenies
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Fora o que ouvira vindo do livro de Nômade. O que este poderia lhe mostrar então? O Grimoire de Poliphilo permanecia em silêncio. Talvez fosse feito assim, afinal não tinha certeza se todos os Grimoires poderiam dizer algo.
— Aqui encontrará coisas boas... o que encontrarei dentro de você? Posso realmente lê-lo? — Seus dedos deslizaram suavemente alguns milímetros acima do volume e um arrepio subiu por seu braço até a coluna. Notou os delicados pelos se eriçarem como se uma energia nova os percorresse e seu corpo respondesse dessa forma a sugestão do contato.
Então o Grimoire lhe respondeu. Não com palavras, mas com uma leve luminosidade que dançou delicadamente e subiu por seus dedos, convidando-a a tocá-lo de fato. Criando um elo de confiança entre ambos. Gio sentiu sua respiração finalmente entrar em sintonia e sorriu sem perceber. Era como alguém tentando comunicar-se com ela. Sua pele finalmente tocou aquela pele e uma onda de energia amistosa precipitou-se a envolve-la como um delicado abraço de boas-vindas.
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Seja bem vinda, Gnóstis. Estive esperando por você. Pode me ler?
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O Grimoire estava falando com ela. Aquilo não era apenas um livro, era realmente uma extensão de tudo que era criativo. Era algo vivo... era um sopro de criação.
Delicadamente ela segurou a ponta da capa e finalmente fez o movimento que o abriu. Inesperadamente um jorro de luz precipitou-se para fora de sua estrutura como um corpo vivo com muitas formas se projetando no ar, uma miríade de imagens que iam e vinham. Gio olhou surpresa para aquela manifestação que parecia uma mente agitada mergulhada numa profusão de ideias. Quando percebeu o ambiente ao seu redor tremulava como se o véu da realidade estivesse se rompendo. Seu próprio corpo sentia-se como no olho de um furacão. As luzes das velas dançavam num ritmo agitado e a porta abriu-se deixando um Elzevir temerário irromper recinto adentro com a mão apontada para ela. Seus cabelos agora esvoaçavam soltos como a juba de um leão majestoso.
— Feche o Grimoire, depressa! – ordenou com um timbre de voz que a fez obedecer rapidamente.
O Grimoire silenciou-se e Gio afastou-se trêmula. Poliphilo já estava lá, ao seu lado segurando seu braço e fazendo-a sentar-se.
— Isso foi perigoso! — Elzevir fazia gestos invisíveis que recompunham o ambiente fazendo emanar novamente um equilíbrio traduzido pela luz controlada das muitas velas do recinto.
— Não devia ter tentado abrir sem um de nós por perto — Poliphilo sussurrou num tom mais conciliador. —Quase rompeu a Fortaleza. — Parou de falar para observar o rosto dela. Havia um misto de incredulidade e entusiasmo em seus olhos que ele não conseguia conter.
— Eu achei que era só abrir e ler. Ele me convidou a lê-lo — explicou. — Desculpem, eu não imaginei que era assim.
— Tudo bem, Gnóstis — Elzevir a fitou e fez uma firula cortês com a mão —, mas da próxima vez siga as regras de segurança e não tente nada sem um de nós por perto.
— Então isso significa que eu sou mesmo uma...
—... Gnóstis? Sim — Poliphilo sorriu e bateu com a ponta do dedo indicador na capa do seu Grimoire — Você o fez abrir-se para ser lido. Agora só precisa fazer isso corretamente, mas por hoje chega.
— Também acho — confessou e levantou-se arrumando os cabelos meio bagunçados. — Acho que gostaria de um resto de dia comum, se possível.
— Claro. Um dia comum será providenciado — Poliphilo fez um gesto para que o acompanhasse e Elzevir os seguiu.
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Naquela tarde Gio trabalhou nos livros com a mente vagando em Imaginarium. Enquanto suas mãos se movimentavam automaticamente fazendo tarefas que lhe eram tão familiares, seus pensamentos tentavam dar uma ordem às inúmeras questões que iam surgindo a cada momento. Havia tantas perguntas que desejava fazer a Poliphilo e tudo parecia acontecer tão depressa. Quando saíram da biblioteca dentro da Fortaleza Elzevir ainda lhe revelara algo inusitado:
— Você tem a Gnósis de um biblios com um nível muito diferente do nosso. Ainda não sabemos tudo o que você pode fazer porque nossas referências sobre um Gnóstis são basicamente lendas, não fatos reais. Em verdade você é a primeira Gnóstis real que qualquer biblios existente deve ter visto. — Sorriu e tocou em seu ombro cochichando perto de seu ouvido. — E aquele truque para chegar a Imaginarium, com certeza você também é capaz de fazer.
— Quer dizer, aquilo que vi Poliphilo fazer? — Ela movimentou as mãos como se tivesse uma passagem secreta a sua frente e pretendesse abri-la. Elzevir riu e concordou com a cabeça.
— Tem estantes na sua casa, imagino. Quando precisar falar comigo, sabe como chegar até mim. — Afastou-se um pouco enquanto Poliphilo abria a passagem e fazia um gesto para Gio o seguir.
— Obrigada. — Um sorriso de alívio se abriu em seu rosto e caminhou de volta.
Elzevir viu a passagem se fechar e soltou um suspiro suave enquanto outra grande porta do corredor se abria para revelar alguém que observava tudo de longe. Ele sorriu e virou-se para uma silenciosa testemunha.
— Ela realmente é uma Gnóstis, mas eu espero que ela controle suas habilidades depressa, seja lá quais forem, porque não há tanto tempo assim.
Gio ainda não tinha noção nem de suas habilidades como tampouco do tempo a que Elzevir se referia. Em sua mente havia a inquietação de saber misturada com uma excitação crescente de tudo que ainda estava por vir. Repentinamente algo que parecia incrível estava acontecendo em sua vida e isso tudo estava ligado ao que sempre amou fazer. Se por um lado aquilo parecia sensacional, por outro era assustador porque um mundo de novos e inusitados conhecimentos estava se abrindo para ela. Poliphilo era cuidadoso e protetor, mas também podia perceber a empolgação que ele parecia esconder com suas frases e gestos calculados. Ela sentia sua urgência em realizar seu intento, mas havia um cuidado, uma prudência que era pungente. Quando a trouxe de volta não demorou a deixa-la com algumas orientações:
— Talvez eu não possa vir hoje ou amanhã, mas fique tranquila. Lembre-se do que Elzevir lhe disse; você também pode abrir uma passagem para Imaginarium e ir ao seu encontro.
— E se eu me perder?
— Não se perderá se apenas pensar em Elzevir. A passagem se abrirá para a Fortaleza. Não poderia estar num lugar mais seguro.
— Você vai para sua biblioteca ou coisa assim? Onde o Alfarrabista dos Mortos fica? Tem muitas coisas que quero te perguntar. — Ela fez um gesto para segurar a manga de seu paletó que era o que ele usava novamente, mas parou. Poliphilo sorriu condescendente e concordou com a cabeça.
— Quando eu voltar terá a chance de me perguntar mais coisas. Por hoje eu devo ir. — Afastou-se sem esperar uma resposta.
Gio ainda tinha essa imagem em sua mente quando a voz de Margarida a trouxe de volta.
— Tudo bem, Gio? — Ela piscou algumas vezes e tirou os óculos para disfarçar enquanto o limpava.
— Estou ótima. Só pensando em algumas coisas, Mag.
— Você parecia estar bem longe. Quem era aquele bonitão falando com você?
— Você o viu? — Gio arrependeu-se logo de perguntar aquilo. Esquecera por alguns segundos que ele podia ficar visível para qualquer um. Poliphilo era um biblios para ela, mas quem seria ele nesta realidade? Como ela o apresentaria aos outros? Pensou depressa em algumas alternativas. — Um conhecido de um curso que fiz há alguns anos. — Finalmente escolheu essa persona para ele.
— Eu o vi falando com você e saindo. Parecia bem chique. Um restaurador?
— É. Ele trabalha no exterior e está de passagem. — Deu um sorriso finalizador de conversas, daqueles que ficam suspensos no nada, para começar a ajeitar os materiais e encerrar as tarefas do dia. Sua experiência lhe dizia que quanto menos você alongasse uma lorota, menor a chance de ser pega nela. Estava na hora de ir pra casa porque havia sido um dia muito mais longo que o normal. Agradeceu intimamente que faltava uma semana para tirar suas tão esperadas férias e poderia evitar um pouco situações constrangedoras como aquela.
Quando finalmente pôs os pés no saguão da antiga casa pode sentir o cheiro dos aromas vindos da cozinha. Nina entrava mais cedo no serviço e isso fazia com que chegasse um pouco antes e iniciasse seus ritos culinários. Por uns minutos Gio esqueceu todo aquele mundo de seres incríveis, livros sobrenaturais e poderes criativos, para apenas se focar no bom o velho rito de estar em sua casa e fazer coisas simples e cotidianas. Guardou suas coisas e desceu para a cozinha onde viu os temperos do jardim colhidos há alguns dias atrás, alguns secando dependurados, outros em esteirinhas de bambu para serem debulhados quando estivessem no ponto. Era exatamente como a avó delas fazia e agora perpetuavam.
— Oi, Gigi. Pode lavar o arroz para mim? — Nina sorriu enquanto picava alhos e cebolas. No fogão uma panela já fumegava um cozido cheiroso.
— Claro. Como foi o dia? — Pegou o escorredor e começou a limpar os grãos debaixo da água corrente.
— Normal e o seu? — Olhou de lado e deu uma risadinha. — Alguma novidade?
— Ah! Algumas, mas acho que levarei um bom tempo contando isso e, de verdade — Sorriu e fechou a torneira. —, eu mesma preciso botar minhas ideias em ordem pra poder te explicar tudo.
— Sério? Isso vai ser melhor que cinema. — Começou a refogar os temperos e colocou a mão na cintura olhando para o vapor perfumado que saía das panelas. — Não sei o que é, mas quando quiser me contar estou curiosa pra saber o que descobriu. Já o viu de novo?
— Sim — confessou. — Mas ele não é o visitante.
— Meu Deus. Tem mais gente, então? — Jogou o arroz na panela.
— Bem mais... — Pegou os pratos e os dispôs sobre a mesa. Como Gio se silenciou Nina entendeu a deixa e começou a tagarelar sobre seu dia de trabalho até o jantar ficar pronto e se sentarem para degustar a refeição.
Gio gostava dessa faceta de Nina que conseguia se desvincular das coisas mais surpreendentes em segundos com a mesma naturalidade que as ouvia pela primeira vez. Nina exercia seu poder de autocontrole conquistado através de inúmeros anos de treino na horta da avó que dizia que a Natureza era mestra em ensinar. O Shiva Dançante da biblioteca era seu único confidente de maiores frustrações e um item da casa que já ganhara a condição de membro familiar.
Ela sabia que em determinado momento teria de dividir o peso de suas descobertas com a irmã, mas desejava ter mais respostas para as perguntas que não apenas as suas, mas que futuramente poderiam ser feitas a ela. Dessa forma, depois de conversarem sobre coisas frugais enquanto lavavam a louça, terminaram de arrumar a cozinha e Gio foi para a oficina enquanto Nina se recolheu para o quarto. Ficou um par de horas colocando em ordem seus trabalhos e adiantou algumas encadernações que venderia na loja virtual. Como Poliphilo dissera, não veio naquela noite e tampouco viria nas seguintes. Gio teria de lidar com o fato de ser Gnóstis ao seu modo, então fez o que sabia fazer melhor; continuou a criar.
Em determinado momento parou de preparar as capas que estava fazendo e deslizou os dedos pelo couro tratado que recebera o engaste dourado. Lembrou-se das palavras de Poliphilo sobre pensar em Elzevir para ir até a Fortaleza. E se ela pensasse em Poliphilo, onde iria parar? Levantou-se devagar e deixou os materiais de trabalho para olhar a paisagem através da grande janela onde a noite avançava tranquilamente abraçando todas as coisas e tomando o lugar das últimas impressões fugazes do dia. Logo a madrugada alcançaria tudo. Ficou pensando no livro de Nômade, no Sumidouro, e novamente lhe veio à lembrança o fato dos necromons não serem vistos pelos biblios. Ela, como Gnóstis conseguiria vê-los? Um biblios ficava invisível até a ela, se desejasse, mas sendo uma Gnóstis poderia dominar isso? Ver quem desejasse? Tocar um Sumidouro poderia ser perigoso, mas o que sentiria ao ver muitos deles? Eles lhe falariam como o livro de Nômade falou?
O ar frio insinuou-se um pouco na oficina e Gio pegou um casaco que estava sobre o respaldo da cadeira, vestindo-o enquanto caminhava até a biblioteca da casa. Poderia parecer impulsivo, mas achava que deveria ver até onde conseguia ir ao pensar no Alfarrabista dos Mortos.
A biblioteca, assim como a oficina tinha uma grandiosa janela do teto ao chão, ampla e que compunha seu extremo oposto na estrutura térrea da casa. Gio entrou e acendeu um abajur. As paredes eram revestidas de estantes embutidas que guardavam livros novos e antigos, muitos dos quais tinham sido cuidadosamente encadernados pelo velho Loredano e Gio, outros eram apenas preferências pessoais das irmãs. Olhou para o Shiva Dançante que ondulava em sua dança cósmica, impassível durante todos aqueles anos, num móvel entre as antigas estantes.
Você está prestes a ver um truque novo.
Ela sorriu um pouco e respirou fundo antes de estender a mão para uma das estantes do recinto. Seu primeiro pensamento foi imaginar a passagem, mas não parecia funcionar assim porque tudo permanecia exatamente igual. Devia ser mais precisa, mais detalhada? Fechou os olhos e pensou em Imaginarium e em Poliphilo por algum tempo. Fechou os olhos e tentou reconstruir aquela persona diante de seus olhos.
Eu quero ir aos domínios do Alfarrabista dos Mortos.
Por alguns momentos tudo deu a sensação de estar da mesma forma. Ela abriu um dos olhos e pareceu desanimar ao ver a estante inerte a sua frente e totalmente indiferente aos seus comandos mentais. Então sentiu uma brisa morna bafejar entre as prateleiras fazendo os fios de sua franja dançarem um pouco. Logo, pode notar que o fundo da estrutura começava a desaparecer para ser seguido pelo resto até criar um vão que parecia um caminho. Não era tão gracioso como o que vira Poliphilo fazer, mas acreditou que talvez a prática futura a fizesse ter um resultado menos grotesco que um buraco de caverna. Talvez devesse imaginar a estante se abrindo de uma outra vez ou quem sabe para cada lugar a passagem tivesse um aspecto diferente?
Deu alguns passos adiante e percebeu que quanto mais se aproximava, mais a passagem tomava forma. Foi então que pode ver bem um corredor revestido de nichos com livros. Era uma experiência similar à que tivera quando foi até a Fortaleza pela primeira vez.
A realidade era forjada à medida que caminhava para seu destino, mas ela não tinha a mínima noção do que veria a seguir.
[1] Citação de James Henry Leigh Hunt ou simplesmente Leigh Hunt. Poeta, crítico e ensaísta inglês do séc. XIX


